Produtores rurais do norte do Espírito Santo perderam até 70% da produção de café por falta de água

12/05

Membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Barra Seca e Foz do Rio Doce (CBH-Barra Seca) visitaram a zona rural dos municípios mais afetados pela estiagem.

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Preocupados com a falta de água e a forte estiagem enfrentada pelos produtores rurais do norte do Espírito Santo, membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Barra Seca e Foz do Rio Doce (CBH-Barra Seca e Foz do Rio Doce) visitaram, entre os dias 02 e 03 de maio, a zona rural dos municípios de Jaguaré, Sooretama, São Gabriel da Palha e Vila Valério. Há três anos com poucas chuvas, os prejuízos no campo e, principalmente nas lavouras de café, consideradas o carro chefe da economia local, chegam a 70%. Além do racionamento de água, perfuração de poços e construção de barragens os municípios da bacia buscam medidas para manter o abastecimento humano e a agricultura.

Durante as visitas, a presidente do CBH, Dolores Colle, explicou o papel do colegiado.  “O CBH é um espaço democrático em que é discutida a gestão dos recursos hídricos. A entidade reúne representantes do poder público, usuários e sociedade civil, dispostos a discutir temas relacionados à falta de água”.

Jaguaré

Há três semanas o município de Jaguaré, que tem cerca de 30 mil habitantes, iniciou o racionamento de água e, mesmo assim, não está sendo possível manter o abastecimento durante todo o dia. O diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município, Sérgio Correia, explicou que estão sendo tomadas todas as providências necessárias, porém a população precisa economizar. “Estamos conseguindo  abastecer a cidade por oito horas e vamos tentar aumentar para dez ou até mesmo 12 horas ao dia. Perfuramos um poço artesiano na sede e estamos fazendo a transposição de uma nascente para outra, mas essas medidas ainda não são suficientes. A barragem que ajuda o abastecimento da cidade tem apenas 10% do volume e a qualquer momento pode secar”, disse Sérgio.

Há 10 anos existiam 15 mil hectares de área irrigada em Jaguaré, hoje esse número ultrapassa os 27 mil hectares. Para o secretário de agricultura, João Malanquini, a produção agrícola cresceu, mas os produtores não se adaptaram para manter a irrigação. “A falta de água e os prejuízos na área rural são consequências da estiagem dos últimos dois anos. O produtor precisa se conscientizar e se adaptar, buscando sistema de irrigação mais econômico como, por exemplo, substituir a irrigação via aspersão pela técnica de gotejamento”, aconselha Malanquini.

Outra medida tomada pelo município em parceria com os produtores rurais é a implantação do projeto “Barragem Legal”.  Com o objetivo de manter o abastecimento humano e ajudar na irrigação, o município oferece maquinas e mão de obra para construção de barragens e o produtor se compromete com a recuperação da área. “O programa iniciou em 2013 e já recuperou e construiu mais de 40 barragens”, comentou o Secretário de Meio Ambiente, Ramon Bonomo Santana.

Mesmo com uma barragem próxima à fazenda, o produtor de café Izidoro Cândido, perdeu mais da metade da produção desse ano. A plantação de café, pimenta e maracujá, que antes era irrigada pelo córrego do Caximbau, situado na zona rural de Jaguaré, hoje espera a água da chuva para conseguir salvar a safra do ano que vem. “De oito sacas de café, por exemplo, mal conseguimos salvar dois sacos. Se chovesse um pouco ainda esse ano poderíamos recuperar um pouco da produção do ano que vem, já que esse ano o prejuízo é incalculável”, disse Izidoro.

Sooretama

Os mesmos problemas enfrentados pelos produtores de Jaguaré chegaram às fazendas de Sooretama.  Há mais de 40 anos, o produtor Miguel Francisco Felipe mantem a família através da plantação de café. Nos últimos anos ele investiu em pimenta e coco, porém enfrenta dificuldades para manter a produção devido à falta de água.  “Para essa lavoura, eu e meus vizinhos fizemos investimentos altos e pegamos dinheiro com o banco. Agora, com a falta de chuva e sem água para salvar a lavoura não temos como pagar nossas dívidas. Esse ano vou colher apenas 30% da produção”, lamentou Miguel.

Como tentativa de salvar a produção do ano, os produtores rurais Oscar Francisco dos Santos e José Francisco dos Santos, pai e filho, migraram do café para produção de pimenta, mas as perspectivas não são boas. “Não vemos expectativa para continuar trabalhando no campo. A gente tem buscado alternativas, mas sem sucesso. A produção de pimenta esse ano está perdida e sem água não vamos conseguir produzir mais nada”, lamenta Oscar.

Banhado pelo córrego do Cupido que em alguns trechos secou, o produtor de banana e pimenta Jaime Balbino de Menezes é membro do Movimento dos Pequenos Agricultores de Sooretama (MPA). O grupo tem uma produção diversificada, voltada para o consumo próprio e para fornecer alimento às escolas e instituições da região. Porém, esse ano, esse ano, não será possível cumprir o contrato assinado com a prefeitura. “Eu teria que entregar a primeira safra no próximo mês. Perdi toda a produção de banana da terra e se chover eu consigo salvar a banana prata”, comentou Jaime.

O secretário executivo do comitê, Valdir Martins dos Santos, acompanhou todas as visitas e comentou que na região norte do estado, onde a monocultura predomina, o problema é ainda maior. “Essa região é muito dependente da irrigação, e chegamos a um ponto em que a disponibilidade hídrica foi superada pelas áreas plantadas”, conclui Valdir.

São Gabriel da Palha

São Gabriel da Palha é um dos municípios banhados pelo Rio Barra Seca que enfrenta forte estiagem. O SAAE do município também aderiu ao racionamento de água, mantendo o abastecimento humano apenas oito por dia. “A região tem como carro chefe a produção agrícola. Vemos produtores tentando salvar as lavouras sem sucesso”, comenta o técnico Meio Ambiente da Secretaria de Meio Ambiente de São Gabriel da Palha, Deivid Manzoline Santos. “Não podemos culpar os produtores rurais pelas ações naturais, como a falta de água. Temos que lembrar que eles são as peças- chave para o desenvolvimento. São eles que levam alimento à mesa da população urbana”, explica Deivid.

Preocupado com a qualidade do leite e do café produzidos na fazenda que fica na zona rural de São Gabriel da Palha, o produtor Domingues Sartori garante que esta à mercê da situação. “Nós produtores rurais não vamos conseguimos cumprir com nossos compromissos. O governo tem que olhar com carinho para nós, porque estamos totalmente sem condições de pagar nossas dívidas e sem expectativa de lucro”, disse Satori.

Vila Valério

O último município visitado pelos membros do CBH-Barra Seca e Foz do Rio Doce foi Vila Valério, em que 60% da população está na zona rural. O proprietário rural Gezomar Hertel cultiva café, pimenta, hortaliças e cria galinhas. Ele está entre os produtores que perderam mais de 80% da safra do café e metade da pimenta para esse ano. “O grão do café secou e a copa do pé que salvaria a safra do ano que vem não desenvolveu”, comenta Hertel.

A criação de galinha também sofre com a falta de chuva. O produtor conta que os animais ficam em piquetes, uma espécie de galinheiro, e, agora, com a falta de capim será necessário investir em alimento, reduzindo ainda mais o lucro.

A presidente do comitê avaliou positivamente a visita às cidades mais afetadas pela estiagem. “A visita foi importante para conhecermos a realidade dos produtores rurais, e mostrar como a crise hídrica afetou a produção de café, que é um dos carros-chefe da nossa região. Passamos por várias propriedades em diversos municípios e vimos que a situação está generalizada em todas as microbacias que compõem as Bacias Hidrográficas dos Rios Barra Seca e Pontões e Lagoas”, comentou Dolores.

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Confira fotos:

Jaguaré

Sooretama

 

São Gabriel da Palha

Vila Valério

 

 

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