Ailton Krenak, o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), que escolheu as margens do Rio Doce como morada, foi eleito, na última quinta-feira, 5 de outubro, para a cadeira número 5. A vitória do escritor, filósofo e ativista indígena mostra que a comunidade está preocupada com o planeta e que os povos originários lutam por seus direitos – inclusive o de ter um Rio Doce com águas de qualidade e em quantidade.
Às margens do Rio Doce, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, o acadêmico destacou que “a água é uma entidade – não é um recurso! Ele [Rio Doce] tem uma função maravilhosa que dispensa o nosso senso de utilidade. Mesmo que não usamos o corpo d’água, ele tá fazendo um serviço essencial para o planeta e para outros seres que não sabemos nem reconhecer.”
Ailton se consagrou como escritor, e também como uma voz, no momento da pandemia, quando lançou suas obras reforçando que a terra é um organismo vivo e que regula a nossa existência. Defensor do pensamento ambientalista e indigenista, para ele sua mensagem não é uma novidade, pois seus antecessores já falavam “pisa suavemente na terra”, que significa aprender com o planeta e respeitar a natureza, nossa casa comum.
Quando o Rio Doce foi descoberto, eles já estavam aqui!
Conta-se que a história dos índios na região hidrográfica do Rio Doce remonta aos tempos do descobrimento do Brasil. A partir de 1501, foram organizadas as primeiras caravanas em busca das riquezas minerais, no litoral e interior do país. Durante as expedições, os portugueses encontraram um povo indígena numeroso, que se enfeitava com grandes rodelas de madeira nas orelhas e no lábio inferior. Mais tarde, esses índios seriam chamados botocudos. “Eles viviam no Leste de Minas, no Espírito Santo e no Sul da Bahia. Eram muito comuns nas Bacias do Rio Doce e do Mucuri”, registra o livro Rio Doce 500 anos.
Na cidade de Resplendor, às margens do Rio Doce, ficam as aldeias da etnia Krenak, da qual Ailton pertence e escolheu viver. O povo Krenak não está escondido pela densa floresta de Mata Atlântica nativa, também ocupa espaços democráticos, como conselheiros no CBH-Doce.
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